A mentira pode ser definida como “qualquer ação intencional que tenha a função de fornecer a outra pessoa informações falsas ou privá-las das verdadeiras”. Ela é um elemento comum nas interações sociais e presente em todas as culturas, e muitas vezes, sendo até necessária para o bom convívio social. Mas quando?
Quando tem a função de preservar a privacidade da pessoa, possibilitar a boa convivência, manter relacionamentos sociais saudáveis, para demonstrar preocupação, respeito e empatia e como exemplo, quando o pai ou a mãe mente para o filho que um tal lugar está fechado para que a criança pare de insistir em ir até lá.
Ao contrário da mentira considerada leve, socialmente aceita, a mentira passa a ser um problema, quando traz como consequência o prejuízo de outras pessoas. Neste caso, é considerado um problema moral, uma mentira nociva, desonesta, que busca obter vantagens.
E porque as crianças mentem?
É possível identificar a mentira em crianças já a partir dos 2 anos de idade, ou até mesmo um pouco antes, mesmo que não da forma verbal, mas através de gestos, expressões faciais, apontando pessoas e escondendo objetos.
Este comportamento é aprendido quando a criança consegue obter algum resultado favorável a ela. Quando ela aprende que pode obter benefícios através da mentira. Por exemplo, quando: consegue ganhar presentes, dinheiro ou atenção, assim como, evitar tarefas, evitar responsabilidades, evitar culpa, evitar constrangimento e até o castigo, dentre outras vantagens. E, quanto mais estas vantagens são alcançadas, mais forte se torna este comportamento de mentir e isto vale também para os adultos.
É muito importante observarmos com muita atenção qual pode ser o motivo da mentira em nossas crianças para que possamos evitar a mentira nociva. Não podemos esquecer que as crianças pequenas aprendem muito pelo exemplo e imitando o comportamento de outras crianças ou dos adultos ao seu redor e a partir dos 4 anos de idade elas já sabem distinguir a mentira mais leve, socialmente aceita, da mentira prejudicial aos outros.
Então, como lidar com a criança que mente?
Não é necessário se preocupar tanto quando as crianças pequenas começam a contar pequenas mentiras. A mentira requer da criança um trabalho cognitivo complexo e neste caso, tal comportamento pode até ser sinal de um bom desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem, pois requer manipulação de informações, percepção social, de linguagem e controle inibitório. É como se ela tivesse aprendido as regras dos jogos sociais. Mas, quando isto se torna frequente, exagerado e trazendo prejuízos para outras pessoas, já passa a ser motivo de preocupação. Exemplo: quando a mentira envolve “roubo” de um brinquedo ou objetos dos colegas ou de algum ambiente.
- Devemos evitar confrontar a criança em situações que a levam a responder com mentira. Por exemplo: Se a criança sujou o chão, ao invés de perguntar se ela sujou o chão, podemos dizer que o chão ficou todo sujo e isto não é legal. “Você me ajuda a limpar”?
- Observar e saber distinguir a mentira de fantasia. As crianças entre os 3 e 5 anos de idade têm cada vez mais contato com o mundo da ficção e é inserida no mundo de fantasias e diversos personagens. Para lidar com a mentira infantil, o adulto precisa distinguir na criança o que é mentira do que é uma mistura confusa de realidade e fantasia. Talvez possa ser apenas um processo de imaginação da criança.
- Procurar razões por trás da mentira. É importante o adulto buscar entender o motivo pelo qual a criança está mentindo, podendo assim, intervir e mostrar o filho que existem outros caminhos para resolver o problema e que está ali para ajudá-lo.
- Evitar punir a criança. Evitando a punição e dialogando, o adulto abre caminho para a criança ser honesta. Ajude a criança a compreender o que há de errado com a mentira. Exemplo: “Isto é mentira e eu não gosto de mentiras”. Explique que mentir quebra a confiança e confiança é muito importante nas relações.
- Evite rotular. Rótulos não são saudáveis. Chamar a criança de “mentirosa” não é bom para a sua autoestima e pode levá-la a mentir ainda mais, é como se tivesse a permissão para assumir o rótulo.
- Contar histórias. Uma boa e saudável maneira de ensinar valores morais e as consequências da mentira para as crianças é através de histórias. Uma oportunidade de aprender sobre a mentira de forma lúdica.
Sugestões de Leitura:
– Fábula: “O menino que mentia” – “O livro das virtudes” de William J. Bennett
– Livros: “A mentira Cabeluda” de Pedro Bandeira e Walter Lara;
“Alice no País da Mentira” de Pedro Bandeira;
“Nas pernas da Mentira” de Cecília Vasconcellos e Mateus Rios;
“Como a mentira cresce” de Helena Kraljic
– Vale a pena ler também sobre a Honestidade: “A honestidade sempre vence” da Coleção Pequenas Lições.
Enfim, ao identificar alguma mentira em sua criança que seja prejudicial, aborde carinhosamente, mas com firmeza, converse, leia sobre o tema e ensine-a a compreender que não é legal e que existem outras formas mais saudáveis de lidar e resolver que mentir, principalmente se este comportamento está prejudicando as outras pessoas.